terça-feira, 8 de dezembro de 2015


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          Saudações Sorores! Mairinque, 8 de dezembro de 2015.

          Estamos quase em Beltane e posso até mesmo sentir o calor do Fogo Sagrado!... mas espera... Fogo de Beltane? Não deveria ser Litha? É isso que vamos ver!

          Demorei muito tempo para escrever e achei que nunca mais o faria depois do 10º Arcano Maior do Tarot ter passado com vontade por cima de mim. Mas, aqui estou eu!
          Ao ler o primeiro trecho, onde eu falo sobre Beltane, você que é Iniciado nos Mistérios ou se não é, tem conhecimento sobre eles deve ter quase arrancado os cabelos. Calma. Eu explico e vou me aprofundar na explicação.

          Se você me conhece já há algum tempo com certeza absoluta já deve ter visto a quantidade de vezes que tentei chamar para mim e para os Mistérios as pessoas que querem conhecimento. Contei como surgiu a AOVA (Antiqua Ordo Veneficas Argentum / Antiga Ordem das Feiticeiras de Prata) que de Antiga não tinha nada. Nós eramos apenas crianças e achávamos que se contássemos que ela era uma Sociedade Secreta, as pessoas se impressionariam. Nos achariam importantes e seríamos temidas como nos filmes. Eh... cabeça de criança... O nome acabou pegando e as crianças que brincavam com simpatias e faziam "poções mágicas" com as frutinhas da varanda e a grama do jardim, que se achavam as Bruxas mais poderosas do mundo não haviam percebido que aquela brincadeira tinha dado certo e nós já tínhamos nossos próprios Ritos e hierarquia. Mas isso é uma história para uma outra hora...
          Quando eu era pequena, e isso muitos também já devem ter lido, a magia já fazia parte da minha família e, como sempre, apenas para as mulheres.
          Eu nasci em uma Família de Bruxas, mas de vertentes totalmente diferente uma da outra. Minha Bisnona, obviamente italiana legítima, Mãe do meu Avô era Strega Cristã, coisa que para muitos não existe! Ou é Cristã ou é Bruxa! Mas os mais entendidos e geralmente Iniciados nos Mistérios sabem que não é bem assim. A Stregheria é muuuuuuito mais do que os livros contam. Existem tantos Clãs, Cultos, Vertentes, Famílias que é humanamente impossível contar, pois, cada um destes tem seus próprios Ritos e costumes, maaaas isso também é uma outra história. Voltemos para minha Bisnona...
          Minha Bisnona era aquela Strega que tirava suas forças da Comunhão na Missa, benzia os netos e bisnetos com folhas de arruda e abençoava com folhas de louro, tinhas seus próprios Ritos que já vinham de gerações anteriores, conjurava os poderes dos Santos e amaldiçoava em Nome das Chagas do Cristo se fosse preciso.
          Minha Nona uma vez me contou que a Dona Basília, minha Bisnona, começou a gritar no quarto e bater com a bengala nas paredes praguejando em latim e italiano coisas que ela nunca soube o que era e em plena madrugada. Entrou no quarto dos meus avós e começou a gritar que espíritos do mal tinham invadido o apartamento e que ela não tinha mais forças para lutar contra eles. Fez meus avós correrem até uma igrejinha em Pinheiros e chamaram o padre para que ele benzesse o apartamento e expulsasse os espíritos malignos. Com ela eu não tive muito contato e me lembro muito pouco.
          Já minha Bisavó, Mãe da minha Avó, era uma Bruxa Natural assumida! Só não posso dizer da Antiga Religião porque seria uma mentira. Seu nome era Silvia e criou seus (acho... que doze filhos, se não esqueci de contar ninguém no caminho...) literalmente no meio do mato. Foram criados com a Grande Mãe Natureza. Minha avó conta que ela, as vezes, caçava macacos para comer e o forno era feito com armação de bambu e revestido de barro, depois de algumas fazidas de comida, era destruído e refeito. Com o tempo ela foi para a cidade e a Corrupção Religiosa pegou todos seus filhos e ela, de certo modo, humilhando-os quando contavam da Sagrada Natureza e lhes dizendo que estavam errados e que tudo aquilo não era de "Deus", fazendo-os por fim e pela força da pressão, tornarem-se evangélicos.
          Sabe o que eu acho mais engraçado em tudo isso? Ela dizia ser evangélica sem nunca ter ido à Igreja ou se quer saber o que era! Dizia apenas por ver ou ouvir os outros dizerem que era "certo" já que ela não sabia ler ou escrever, mas sabia encantamentos e feitiços! Hahahah...
          Me lembro bem dela. Tinha os cabelos grisalhos muuuuuito longos, sempre soltos e ondulados. andava de saia "pra lá, pra cá" e o carinho dela era enorme comigo. Eu gostava de abraçá-la e a apelidei de Vó Torta, mas não me recordo do porquê.
          O que eu achava interessante além das inúmeras histórias que ela me contava, era a bendita aranha que ela carregava para cima e para baixo! Era enorme! Peluda como um gato, preta e, se não me engano, meio alaranjada, quase do tamanho de uma folha sulfite. Se ela cozinhava a bendita aranha estava na parede, se estava na sala, a bendita aranha estava na mesa, em cima do sofá ou sei lá onde! E quando ela veio a falecer, a aranha simplesmente desapareceu!!
          Minha Vó Torta me punha no colo e contava que onde ela vivia, no mato, havia homens gigantescos feitos de raízes como árvores e que eles protegiam os animais e faziam os caçadores se perderem na floresta. Eles também protegiam aqueles que viviam na floresta e da floresta, ajudavam a achar as Ervas de Poder e as que curavam. Minha Vó Torta sempre tinha um chá, bebida, curativo, comida diferente de tudo que eu já vi.
          Quando ela faleceu eu sofri muito. Chorei por dias e ainda sinto muita falta dela.
          Minha Mãe já era um pouco mais moderna e tinha acesso à livros e Tarots, tinha amigas que praticavam Rituais com ela e era, como ainda é, uma exímia Cartomante dentre outras vocações.
          Minha Mãe foi o estopim para que eu me ligasse definitivamente à Magia e aos Mistérios. Minha Avó, Mãe da minha Mãe, também era conhecedora dos Mistérios e eu diria até demais.
          Minha Mãe e minha Avó tinham uma disputa de força constante e era rotineiro eu escutar uma amaldiçoar ou praguejar a outra. Tanto, que minha Mãe me contou que, ao dizer que estava grávida, minha Avó quase enfartou, pois ela deveria ter uns dezesseis/dezoito anos, e que minha Avó levantou e disse: "... sua filha vai ser como EU! Nascida sob o Signo de Capricórnio e vai ser ruim! Ela vai ser tão dura que vai fazer você pagar por cada desgosto que você já me fez passar nessa vida"... bem... eis que eu nasci! Sob o Signo de Capricórnio e amarga como fel com minha Mãe. NUNCA conseguimos nos dar bem e o choque entre eu e ela era constante e muitas vezes espiritual. Quantas vezes nós já nos encontramos em sonhos e acordamos dando continuidade na discussão? Foram inúmeras! Até o dia em que eu fugi de casa.
          Presenciei em minha infância pequenos Ritos que elas faziam.
          Lembro-me vagamente de um Ritual em que minha Mãe e minha Avó fizeram com a minha irmã, mas não me recordo de como ele aconteceu. Apenas de ver minha Mãe pedindo para minha irmã abrir os olhos e dizer para ela que ela não se lembraria de nada e ambas me pediram para não contar a ninguém. Lembro-me que era para curar a bronquite que ela tinha e ao fazer menção disso em uma de minhas visitas à casa de minha Mãe, ela me olhou com espanto e repreendeu-me de maneira ríspida apenas dizendo "Biancaaa!"... não toquei mais no assunto.
          Eu sempre soube que os Mistérios me chamavam e com força, mas por algum motivo que as duas, Minha Avó e minha Mãe, nunca quiseram me contar, elas abandonaram todos os Mistérios e viraram "Evangélicas". Lembro-me bem do dia em que a minha Mãe chegou em casa aos prantos depois de ter voltado da casa da minha Avó e começou a rasgar e picar todos os livros e revistas de magia e bruxaria que ela tinha. Até o Tarot que ela tinha tanto apreço foi para o lixo e ela gritava que tudo aquilo era do demônio.
          Foi uma época muito sombria para mim, pois eu fuçava cada um daqueles livros e revistas para ver as figuras, já que eu não sabia ler e me obrigavam a ir na "Igreja Universal do Reino de Deus"... pelas meretrizes do inferno! As fiz passar tanta vergonha naquela igreja que toda vez que me arrastavam para lá novamente me obrigavam a ficar com as obreiras. Até chegar o dia que me recusei a ir. Apanhei como um cachorro de rua, mas não fui e nunca mais entrei naquele Templo de Calúnias!
          O tempo passou e eu e minhas amiguinhas criamos o nosso primeiro Coven! OOOoohhhhh! Nós eramos poderosas! Eu já sabia ler e as mais velhas dividiam os livros que elas conseguiam comprar conosco.
          Eu fui crescendo e adquirindo conhecimento. Minha Mãe me observava e dizia que eu não sabia com o que eu estava mexendo, mas eu não me importava. Eu sabia que ela havia saído dos Mistérios, mas os mistérios JAMAIS tinham saído dela. Dito e feito! De uma hora para a outra ela resolveu voltar às origens e voltou a ter seu altar, remontou seu Grimório e o esposo dela (Desgraçado! Que os Deuses o amaldiçoem pela eternidade! Que Ammit coma a alma dele bem lentamente...) desculpem... eu não deveria ter escrito isso, mas é que infelizmente é involuntário para mim lembrar desse DEMÔNIO (desculpem) e não me irritar. Mas então... este... SER, adorava discutir dizendo que havia apenas um Deus Único e que eu havia levado minha Mãe pro caminha da maldade. Era quase todos os dias a mesma discussão e esse... traste!... perturbava até o meu sono!... (Puta merda! Como eu queria que ele queimasse no caldeirão da Feiticeira Ceridwen!... desculpem).
          Bem, eu me casei nova e com o meu primeiro namorado, sou casada até hoje e na felicidade eterna que Eros me proporcionou! Minha Hera, como sou feliz com o meu maridão!
          Quando eu comecei a namorar meu Esposo, minha mãe não queria de jeito nenhum. E minha sogra, ligou para ela dizendo: "Você não quer que a sua filha namore meu filho por quê? Ele é um excelente partido! Tem uma casa ótima, carro próprio e é formado na faculdade! Você queria o que? Um vagabundo?"... e eis que minha irmã me ligou irada dizendo que a Mamãe tinha tido a Visão com a ajuda da Aliança e o fio de cabelo que eu me casaria com ele com Dezenove anos e que iria embora de casa abandonando ela!... dito e feito! Fugi com dezoito e me casei com dezenove para vinte anos. Todos tinham a certeza de que eu estava me casando por estar grávida. Acredito que estão esperando eu parir um elefante, pois até agora nada e olha que já fazem Oito anos!
          Mas eu sei por que minha Mãe não queria que eu namorasse ele. Eu tinha apenas quinze anos e ele Vinte e um! Todavia, eu almejava e chorava quase todas as noites até pegar no sono esperando que alguém preenchesse um vazio que eu tinha no coração. Era como se eu visse apenas metade da minha face no espelho! Poxa, ainda me faltava a outra parte.
          Então, eis que em uma noite tive uma Visão. Eu estava em um baile como numa Corte Inglesa. Eu ainda consigo me lembrar dos detalhes do salão... me lembrava a Bela e a Fera! Havia muito luxo, muita pompa e eu usava um vestido escuro... acho que era um bordô. O Anfitrião havia dado aos convidados trufas de chocolate, mas não tive tempo de pegar nenhuma. Então, fui conduzida até uma grande Biblioteca por um homem no qual eu não enxergava o rosto, mas eu sabia que ele era o meu esposo. Era alto e louro. Meu coração batia forte quando eu estava perto dele (e isso acontece até hoje!). Ele foi até a larga mesa de madeira entalhada e abriu uma gaveta, colocou em cima da mesa uma trufa e me disse: "eu sabia que você não havia comido nenhuma, então eu guardei esta para você". Eu fiquei tão feliz que eu quase não cabia em mim! A trufa era pequena e a comi de uma bocada só. Eu me lembro do sabor!! DO SABOR!! Lembro-me de haver uma cereja nela. Então ele me abraçou e me beijou. Disse-me palavras de carinho e ternura. Foi me envolvendo nos braços dele e me deitando no tapete. Deitou-se por cima de mim e me dava o carinho que eu jamais imaginei que receberia de alguém.
          Hoje eu paro para pensar: "já tive muitos namoradinhos antes dele, mas de onde uma garota, VIRGEM, de apenas quinze anos tirou a ideia de como um homem deve ter carinho? De onde eu TIREI aquela referência?"... Gente, eu até então NUNCA tinha visto um homem nu que não fosse o meu pai! E naquele "sonho", que hoje sei que era uma Visão, nós havíamos iniciado uma transa!!! Eu senti cada uma das sensações de uma ÓTEMA preliminar!... mas eu acordei antes o bem-bom! Ta... de onde eu tirei a referência de Sexo que era uma coisa da qual eu não fazia ideia! Do prazer!... Eu nunca tinha se quer me masturbado uma vez na vida para saber o que era tesão e eu tinha verdadeira AVERSÃO ao sexo (mas eu nem vou explicar o porquê).
          Eu acordei atordoada, trêmula e quase atrasada para o serviço (sim. Eu já trabalhava). Dei um susto no chuveiro, pulei numa roupa e fui trabalhar.
          Meu dia estava sendo o rotineiro, como em qualquer empresa grande e chata! Até que, um estagiário novo, do financeiro, e que eu conhecia fazia pouquíssimo tempo, veio até mim, me cutucou e entregou nas minhas mãos nada mais, nada menos... que uma trufa! Adivinha de que?? De cereja!
          Vinha com um largo sorriso de dentes perfeitos e olhos verdes num tom floresta que por pouco não me fizeram desmaiar, simplesmente pelo fato de que eu conhecia aqueles olhos! Eu tinha certeza! Certeza absoluta! Louro e alto como no meu sonho. Foi então que eu reconheci o rosto. Estou casada com ele até hoje...
          Os Deuses ouviram meu apelo e nunca me faltaram. Quando perguntei ao Tarot se eramos Almas Gêmeas, a resposta foi mais do que confirmada!
          Estranhou uma Bruxa falar sobre Almas Gêmeas ou até mesmo acreditar nelas? Bem, ouvi dizer que as Bruxas da Antiga Religião não acreditavam nisso e só se uniam à parceiros no Fogo de Beltane, até porque elas presavam a liberdade e o descobrimento de novos amores. Mas eu preferi formar minha própria opinião Mágica.
          Você deve ter lido tudo isso e deve estar se perguntando "e? E o que isso tudo tem haver com Beltane em Litha?"
          Eu estudo o quanto eu posso e não achei uma vertente que se encaixasse com tudo o que eu acredito, por isso, optei por criar a minha própria vertente. Criar meu próprio caminho onde eu poderei transmitir para meus filhos meus conhecimentos. Criei até mesmo meus próprios rituais e na casa nova, que está em construção já tem um lugar para o Templo que eu estou planejando. Com isso, dentre as coisas que eu criei para mim, decidi que não celebrarei todos os Sabbaths, mas apenas os Solstícios e Equinócios (todos a meu modo). Eu não tenho uma visão "Wicca" da coisa toda, entende? Não celebro a Deusa e o Deus, apesar de achar incrivelmente lindo e muuuuuito Mágico, não faz parte de mim. Não tenho essa visão "Celta" da coisa. Tenho a minha visão e meu próprio jeito de absorver e interpretar os Mistérios. Espero que isso não ofenda ninguém. Quando citei a Wicca, foi apenas um jeito de figurar a condição para o melhor intendimento dos mais leigos que lerem minha matéria.
          Eu decidi fazer da seguinte maneira: Fazer a "religião" e a "fé" dobrarem-se há minha vontade e não o contrário. Porque fiz isso: porque a Fé só existe com o único objetivo de motivar sua Vontade, de te fazer evoluir e a Religião é uma baboseira criada pelo Homem para manipular o próprio Homem e distorcer a verdade, criando uma ilusão para lucrar com a ignorância.
          O conhecimento se moldado corretamente leva para o mesmo caminho do convencional. Veja: 2+2 são 4, mas quanto é o resultado de 8÷2?
          Não importa o caminho que você percorra desde que ele te leve ao Objetivo.
          Bem, existe, obviamente, um significado além da Lenda da Deusa e do Deus nos Sabbaths.
          Sou Brasileira e minha família também, como posso ignorar o chamado da terra em que eu vivo? Que tipo de bruxa seria eu? Então, decidi que dessa maneira, comemorar o Beltane no Solstício de Verão era a coisa mais acertada a se fazer aqui no Brasil. Lembremos das energias de Fevereiro, no carnaval, em que todos saem quase que na libertinagem bacanal, ou do Natal em que os Cristãos se unem com amor e ternura, a passagem de ano em que, não só o Brasil mas todo o Mundo se cerca de energia pura em pedidos de prosperidade e almejam a vinda de uma vida de felicidade, paz e amor. Quer mais do que isso? Junte tudo o que eu sitei com a chance do nascimento de uma criança. O Beltane é o Sabbath que literalmente pode "criar" uma vida e aqui no Brasil não há nada melhor que o Verão para isso. O Brasileiro é o filho do Sol, é movido pelo calor! Nossa primavera não é tão quente como no hemisfério norte e não é tão motivadora. Por isso, decidi fazer desta maneira.
          Proporcionalmente ao Beltane, O Samhaim, para mim, passa a ser no Solstício de Inverno. Ostara e Mabon não mudaram, pois acredito que se encaixam exatamente no o que acredito.
          Tenho certeza de que muitos, principalmente os Iniciados na Magia Ortodoxa vão achar isso uma blasfêmia, ousadia, ultraje! Mas se não fossem os pioneiros nas mudanças e na ousadia do novo, nem o próprio mundo evoluiria para o agora.
          Não estou me comparando à um Descobridor ou Inventor, mas acredito que se seguirmos os exemplos de Crowley e Madame Blavatsky e ousarmos, criarmos ou impulsionarmos nossas mentes e imaginação, seremos tão bons quanto eles. Eu acredito nisso. Eu acredito que somos capazes de tudo, se nos esforçarmos.
          Vou ficando por aqui, porque já estendi  demais essa matéria!


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Baci e Stregonerie!!
Que os Deuses te abençoem!!

Bianca Andreose 

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